Campinas era uma cidade rica, dos grandes barões do Café, moderna e privilegiada culturalmente, distribuindo para o resto do país, em primeira mão, as novidades que vinham da Europa. Se fizéssemos uma viagem no tempo e sobrevoássemos Campinas e passássemos pelo centro, entre a Rua Treze de Maio e a Rua Costa Aguiar em 1.850, avistaríamos o teto da Catedral de Campinas e logo o Teatro São Carlos, demolido em 1922, para dar lugar ao Teatro Carlos Gomes, inaugurado em 1930, mostrando assim o interesse do campineiro por cultura e arte.
É isso mesmo! Campinas tinha um teatro municipal decente e a cultura não era um descaso como estamos vendo nos dias de hoje.
O Teatro São Carlos, construído em 1850 quando a produção do café começava a emergir no cenário econômico campineiro, atravessou a segunda metade do século XIX e o início do século XX, passando pelo período que compreendeu o primeiro forte salto de desenvolvimento que ocorreu em Campinas. Mas, em 1922, o Teatro São Carlos parecia pequeno e não adequado ao porte da cidade em constantes saltos de expansão, então foi demolido para ceder lugar a outro teatro, muito maior: O Teatro Municipal que em 1959 passou a chamar-se Teatro Municipal Carlos Gomes.
O novo teatro representou a capacidade de acomodar uma quantidade bem maior de público, oferecendo 1.300 lugares. E não foi somente o tamanho que impressionou aqueles que conheceram o novo Teatro Municipal, inaugurado em 10 de setembro de 1930. Era um prédio majestoso, para dar lugar à nova “Casa de Ópera” em um ambiente de muita riqueza.
A construção teve início em 1924 e se prolongou por seis anos, período em que ocorreram várias interrupções nas obras. As escadarias, os corredores, o lustre do saguão, as paredes adornadas recobertas com pó de ouro16, são apenas algumas das características mais recorrentes nas lembranças daqueles que conheceram esta maravilha.
Cinco anos após sua inauguração, os jornais já criticavam “sua” administração. Em 1935, os jornais da época já apontavam um certo abandono do teatro, a imprensa denunciava o surgimento de problemas estruturais no prédio. Rachaduras e infiltrações foram identificadas em vários pontos. Em 1965, baseado em dois laudos técnicos, o então prefeito Ruy Novais apoiado pela maioria dos vereadores, decidiu colocar o monumento abaixo, demolindo de forma bastante repentina “um pouco” da história de Campinas, ou seja, da nossa história…
Parte significativa da população não se sentiu satisfeita com as explicações dadas pela Prefeitura, especialmente pelo prefeito sobre a drástica decisão de demolir o teatro. Diferentes versões para o fato são dadas em uma série de vinte e dois depoimentos que estão no livro “Fragmentos de uma demolição: História Oral do Teatro Municipal Carlos Gomes”. Na obra, pessoas que participaram da construção do teatro, administradores, atores e cantores, trabalhadores da casa, assim como os técnicos que elaboraram os laudos que designaram as falhas estruturais que condenaram o prédio, contam as variadas histórias e singularidades deste local de espetáculos, colocando as razões de seus posicionamentos, contra ou a favor da demolição do teatro. Um fim lamentável, um puro descaso com a história de Campinas.
O terreno onde ficava o Teatro, tornou-se estacionamento. Logo após, ali foi construída a loja C&A.
Existem pesquisas que afirmam que não há elementos disponíveis que desabonem os laudos técnicos recomendando a demolição, mas destaca que à época havia tecnologia disponível para ações de recuperação e restauração do prédio. “Já eram empregadas soluções avançadas para a construção civil, como no caso do edifício do Museu de Arte de São Paulo, que apostou numa estrutura de concreto protendido, técnica pioneira no Brasil entre 1957 e 1968”. Após ouvirem diversas pessoas ligadas direta ou indiretamente ao episódio e de analisar inúmeros documentos da época, conclui que a condenação do patrimônio arquitetônico teve como pano de fundo o desejo de “modernização” da cidade, a partir da sua região central. Paradoxalmente, argumento semelhante havia sido usado algumas décadas antes para erguer o mesmo monumento.
Atualmente, além de poucas imagens e documentos, restam raras peças do extinto monumento. É o caso do imponente lustre de cristal, tombado pelo Conselho de Defesa do Patrimônio Artístico e Cultural de Campinas (Condepacc), que hoje se encontra na ESPCEX (Escola Preparatória de Cadetes do Exército).
Infelizmente a mesma história se repete e mais um teatro de campinas teve as portas fechadas! É o caso do Teatro Luiz Otávio Burnier do Centro de Convivência Cultural de Campinas, ao qual foi interditado pela prefeitura municipal, para a realização de obras emergenciais para segurança da população, porém, sem possuir projeto algum para reforma, consequentemente, fechado sem previsão para reabertura.
Aos olhos dos que restavam julgar a precária situação, a infra-estrutura do Teatro sofre com instalações elétricas, que além de antigas, estão expostas a goteiras e infiltrações, o que potencializam um perigoso incêndio, já que o local suporta e recebe um grande número de pessoas. Levando em consideração principalmente o período de chuvas, no dia 14 de Dezembro, o espaço foi interditado. Os maiores prejudicados na época foram os grupos de teatros que se apresentariam de acordo com a agenda, e que já tinham os ingressos esgotados. A Academia Ballet & Cia, que encenaria “O Corcunda de Notre Dame” na mesma noite em que teatro teve as portas fechadas, ficou sabendo horas antes do início do espetáculo que não iriam se apresentar. Como forma de protesto, o grupo utilizou o espaço de fora do teatro para encenar a peça. Fato que voltou a acontecer 17 de Dezembro, com a Associação das Academias de Dança de Campinas, que também se aproveitou das ruas para protestar contra a falta de espaço e estrutura para os artistas.
Muitos se perguntam sobre o Teatro Castro Mendes, o maior e principal teatro público da cidade de Campinas, localizado na Vila Industrial ao qual foi inaugurado em 1974, 9 anos após a demolição do Teatro Municipal Carlos Gomes, numa tentativa de suprir a lacuna deixada por este, interditado desde 2007, após encontrar-se no mais completo abandono, o teatro foi fechado para reformas.
Sabemos que o Teatro José de Castro Mendes juntamente com o Teatro Luís Otávio Burnier (Centro de Convivência Cultural de Campinas), são os únicos teatros municipais de grande porte da cidade e que hoje infelizmente estão de portas fechadas. As obras, que já tiveram infinitas datas para conclusão, agora tem previsão para março deste ano. Se de fato cumprida, a reinauguração do Teatro José de Castro Mendes resolveria parcialmente a falta de locais apropriados para apresentações artísticas. Lamentavelmente seguimos vivenciando no século XXI os mesmos acontecimentos e histórias que tem como protagonista o Teatro Municipal de Campinas.
A ARTE PEDE SOCORRO!!! NÃO temos um Teatro Municipal. Campinas merece um teatro “Municipal” digno do que foi perdido. Você concorda???
Agradecimento Especial: Economista João Marcos Fantinatti – Pró Memória de Campinas – Pesquisadora Marialice Faria Pedroso – Unicamp – Artista Alexandre Cartianu – Getulio Grigoletto – Diretor e Dramaturgo Cézar Póvero – Coluna Xeque Mate